Educar para Ler o Mundo
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Educar para Ler o Mundo

Turma do Pézinho em uma degustação de chás!


Quando eu era menor, uma professora de português me ensinou sobre a diferença de enxergar e de ler o mundo. Existem pessoas que apenas enxergam – suas vivências, seus arredores, uma interpretação rasa daquilo que os olhos veem. Para elas, o preto é preto, o branco é branco; a hortelã tem gosto de hortelã, um chá é somente uma água com gosto de folhas. Já aquelas que o leem, aguçaram os sentidos ao longo dos anos, aprendendo a perceber que o preto não é apenas cor: ele é escuridão, noite. O branco é luz, mas também é ausência. O hortelã tem gosto docinho e o chá, com as folhas misturadas, pode ter um sabor para cada um que bebe.

“Sem a Educação das Sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido” – afirmou Rubem Alves

O universo sensorial é vasto, independente da idade. Adultos podem aproveitá-lo também, porém, é desde pequeno que devemos ser mediados para senti-lo em sua totalidade. Notar a sutileza no perfume das flores enquanto criança faz com que o mundo seja menos duro depois das diversas fases de crescimento. Pra que isso seja possível, não é necessário nenhum treinamento mágico, somente disposição e dedicação em criar ambientes exploráveis, que instiguem as percepções mais tênues do olhar infantil para a vida.


A infância permite possibilidades, uma vez que ainda não somos dotados de tantos pudores, censuras e olhares em cabresto para a rotina. As coisas mais simples nos impressionam. Quem não se lembra de ver, pela primeira vez, uma minhoca se contorcendo na terra? Naquele instante, em que esse referencial não existia em nossa mente, e a terra era mais marrom do que ela parece hoje, vivenciamos uma experiência quase mágica. Os anos se passam e, se não temos uma manutenção deste olhar, esse superpoder desaparece. Caímos no limbo das semanas frias, vemos apenas aquilo que queremos enxergar.

“Quero ensinar às crianças. Elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante do banal.”

Despertar as habilidades cognitivas na educação infantil não se trata somente de desenvolver a coordenação motora, ou de aumentar o raciocínio lógico. Estes também são elementos importantes, contudo, eles devem estar intrínsecos à chamada “sedução pedagógica”, a arte de atrair as crianças pela busca por conhecimento, e por consequência, pela leitura de mundo. O fascínio pelo aprendizado é um dos grandes motivadores que mantém nosso olhar encantado, vívido, nos encaminhando à uma formação diferenciada enquanto adultos inseridos em contextos sociais e profissionais que nos exigem qualificação para lidar com diferentes tipos de pessoas, circunstâncias – e crianças.



Enquanto formadores pedagógicos dentro de nossas instituições, se já não temos essa aptidão de olhar além do que se vê, devemos então procurar por ferramentas que nos possibilitem atravessar o véu da realidade, para que possamos trazer um pouquinho do que há do outro lado para as vivências das crianças dentro e fora da sala de aula. Ao preparar um ambiente, prepare com encanto – por que não servir o chá aos bebês em um mundinho diferente? Onde as folhas estão presentes e as xícaras instigam a sensibilidade, trabalhando não só a coordenação motora fina, como explorando a degustação e treinando o olhar para um mundão de desafios que virão pela frente. São nestas experiências que acreditamos, este é o nosso #JeitoCasinhaDeSer. Pesquisa: Adriana Butturi, coordenadora pedagógica. Fotos da turma: "Tia" Dani Texto: "Tio" Delson

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